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Um filme dirigido por Walter Carvalho pressupõe de antemão um cuidado excepcional com a fotografia. Porém a beleza estética do filme vai além do previsível, é belíssima visual e narrativamente. O trabalho com a luz, as sutilezas de movimentação de camera e os enquadramentos andam de mãos dadas com a narrativa da história o tempo todo: nada é de graça, tudo tem um propósito e tudo está ligado ao enredo, desde as várias composições de cenas com espelhos até a maravilhosa cena da estátua de Lenin apontando para o espectador, filmada no rio Danubio em um movimento de câmera preciso que culmina na imagem de ponta cabeça.
Porém, como toda regra tem uma exceção, quase nada é gratuito: as cenas de nudez e sexo são totalmente desnecessárias, e não são poucas. Além de não acrescentarem nada, não possuem nenhuma importância para roteiro, nem para a narrativa e tampouco para a construção do filme. Dizer que essas cenas são importantes pela beleza visual e pelo trabalho com luz/volume não basta: Walter Carvalho já mostrou isso em todo o resto do filme. Sexo e nudez totalmente gratuitos e sem propósito que nos remete à época da pornochanchada.
Além disso, há muitas cenas que poderiam ser cortadas sem implicar nenhuma perda, cenas que não tem importância para a estrutura da obra como um todo (independente do livro). Porém, se a roteirista pecou nesse aspecto, acertou em cheio em outro: a metalinguagem.
O filme todo é (assim como o livro deve ser) uma grande metalinguagem. Se o livro de Chico Buarque é sobre um livro, o filme de Walter Carvalho é sobre um filme. Essa questão foi muito bem resolvida na construção da adaptação: a metalinguagem está presente na cena onde José Costa vira para falar com a camera (consequentemente, com o espectador); na cena final onde vemos uma camera rodando através do espelho; e principalmente na última fala do filme, em voz over: “Corta, valeu!”.
A participação de Chico Buarque é fantástica do ponto de vista de “brincadeiras” com a própria metalinguagem: Chico-personagem é um desconhecido que pede autógrafo no livro que Chico-ator escreveu, e que dá origem ao filme que estamos vendo. Ele pedindo autógrafo para ele mesmo no filme dele?
Viajando um pouco mais, ouso comparar o enredo com o de “Dom Casmurro”. Assim como na obra de Machado de Assis, a sensação que fica é: o que é invenção e o que é realidade? Houve ou não houve traição da esposa? O que realmente aconteceu e o que é imaginação dele (José Costa/Dom Casmurro)? Acompanhamos a história sob o ponto de vista de um só personagem e somos forçados a acreditar nele, embora sempre reste a desconfiança, principalmente por conta das crises de identidade (literalmente, José Costa possui muitas identidades) do personagem.
Um comentário:
Adorei sua resenha.
Estou querendo ver esse filme, e seu ponto de vista me deixou mais curioso ainda pra ver-lo e poder ver se eu posso ou não concordar com você. hehehehe!
Adorei o Blog!
Bjus!
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