segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Natimorto (Lourenço Mutarelli)


Sempre me ocorre de entrar muito fundo em determinado filme ou livro que me agrada.

Por alguns instantes (lê-se dias) eu permaneço no clima do que acabei de ver / ler. Não sei explicar isso, mas eu me envolvo mesmo com os personagens, com a trama, com a narrativa...

Dessa vez aconteceu comigo e O Agente, o personagem-narrador desse livro estranho que mistura poesia com teatro com literatura introspectiva.

Ele é um cara intrigante. Teve alguns traumas de infância que o marcaram para o resto da vida e que foram decisivos para que se afirmasse nele uma personalidade forte, uma mente extremamente imaginativa e um jeito rude, uma necessidade de defesa contra as pessoas e principalmente contra si mesmo. Eu sou o monstro.

Ele fala coisas muito profundas de um jeito tão sutil que chega a ser pesado. Tem o peso de tudo que ele carrega com ele.

Passou pela experiência de ouvir sua própria mulher lhe dizer que estava dormindo com outro cara. Ela disse que não seria digno esconder de mim. E a partir daí decidiu virar assexuado. Então decidi ser mais forte que o sexo.
Me pergunto se é possível alguém conseguir isso. O simples fato de evitar o sexo já significa pensar nele. Um ser assexuado não tem necessidades sexuais, não tem desejos sexuais, não vive o sexo. E pensar o sexo já é viver o sexo. Se algo está no seu pensamento, mesmo que em forma de negação, já está em você. "Não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer", já pensava e dizia Rodrigo Amarante.

É parecido com o que acontece com a ignorância e o conhecimento. Uma vez que você alcança algum tipo de conhecimento, nunca mais poderá ser ignorante em relação a isso novamente, mesmo que você queira. Há uma possibilidade de ignorar o conhecimento e fingir para si mesmo que ele nunca aconteceu, porém no fundo você sabe, no fundo você conhece. "Um passo pra frente e você já não está no mesmo lugar", já dizia alguém.

Quanto mais eu me protejo,
mais eu me firo.
Quanto maior a doçura,
mais forte é o enjoo.

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